Star Trek havia estreado na sexta-feira, mas cinema em final-de-semana só não é um programa-de-índio maior do que shopping em final-de-semana. Como uma coisa não existe sem a outra…
Chega então quarta-feira, escolhemos uma sessão com menor probabilidade de convivência com muitos exemplares da raça humana e o tempo, esse pícaro, resolveu que era hora de intervir.
O Rio Grande do Sul é uma espécie de Inglaterra em relação ao clima, com a desvantagem de que ganhamos em reais e os trens não funcionam depois da meia-noite; sem contar o preço da Guinness.
O fato é que chove muito por aqui, chove tanto que, quando passam-se 15 dias sem chover, já começa a se falar em seca. Ninguém lembra que depois de uma dessas “secas” é comum o sol desaparecer por 3 meses.
Pois a seca resolveu acabar justamente na quarta-feira.
Quando você cresceu com um clima desses, não é qualquer furacão que muda seus planos, decidimos que a chuva era passageira e entramos no carro. O horário não era de grande movimento na BR e tudo ia conforme planejado, não fosse uma poça d’água.
Por poça d’água entenda-se quase duas centenas de metros de água; tenho certeza que vi alguns nadadores na borda esperando o tiro de largada.
Claro que o carro morreu antes que os veículos passando à esquerda permitissem que eu fugisse do dilúvio.
Claro que o carro não pegou depois disso.
Claro que tomei um banho olhando para o motor, ninguém te fala que a mecânica que se aprende no curso de física não tem nenhuma utilidade quando o assunto é carro.
Voltei para a direção e, para minha surpresa, uma pick up parou ao lado e o motorista perguntou se eu precisava de ajuda.

O sujeito parou, pegou uma corda que providencialmente carregava, aumentando em 100% o volume do alarme do meu “serial killer alert”, e começou a manuseá-la com a prática de quem enforca dois Saddams Hussein antes do almoço.
Ele amarrou uma das pontas da corda na pick up e me passou a outra para prender no carro. Me abaixei para fazer isso, enquanto esperava o golpe de marreta que levaria na cabeça ou a algema que me prenderia pelo pulso para ser arrastado pelo asfalto.
Surpreendentemente escapei ileso e, já de pé, ele pediu que entrasse no carro, deixasse o freio de mão com apenas alguns dentes puxados que ele me rebocaria até a próxima saída da rodovia.
Minha namorada comenta que “ainda existe gente boa no mundo”, no que eu repondo que, das duas umas, ou ele é um mecânico caçando uns trocados ou um psicopata assassino que irá nos estuprar e matar, não necessariamente nessa ordem.
O Filho de Sam nos guinchou, parou onde disse que iria parar, uma rua bem clara e movimentada, por sinal, e foi embora.
- Viu, eu disse que ainda existe gente boa nesse mundo.
- Que nada, não éramos o perfil de vítima que ele gosta de atacar.
Para quem esperava um thriller cheio de ação, violência e aventura, aguarde a segunda parte, onde aparece o motoqueiro da moto-serra e a gang das formandas em psicologia assassinas.